21 de abril de 2009

Primavera


Avida às vezes é ingrata
mas quem souber bem buscar,
em qualquer canto por aí
coisas lindas há-de achar.

E digam lá
se são ou não
uns amores,
estas lindas flores
que eu colhi por aí,
e que momento bonito
que convosco reparti!

2 comentários:

  1. O 25 de Abril de 1974 que vivi, foi um tempo de exaltação, de sortilégio e de esperança.

    Emigrado na então República Federal da Alemanha, desde Janeiro de 1973 vivia ainda cheio de interrogações sobre o futuro, mas convicto de que só a saída do país de então mo permitia começar a projectar.

    Isento de convicções políticas, mas marcado pelo sofrer das injustiças, era impossível não me interrogar sobre o porquê da riqueza e ostentação quando, como milhares, vivia a penúria. Sobre o porquê da guerra colonial quando pelas fissuras da barreira propagandista do regime fascista, se pressentia a razão e justeza da luta daqueles povos.

    A pátria era madrasta, as mudanças impunham-se à consciência das pessoas. A alvorada de liberdade e da democracia rasgou fronteiras, chegou com ímpeto às comunidades emigrantes, a alegria e entusiasmo que sabíamos estar a viver-se no nosso país, arrebatou-nos e de cabeça erguida confirmámos aos nossos companheiros alemães das fábricas que sim senhor, Portugal não era uma província de Espanha, era um país soberano, livre e democrático. Sentimos um irreprimível orgulho da nossa condição de portugueses, da nossa identidade.

    Iamos sabendo das mudanças que a revolução de Abril operava, e a sua força era tanta que a distância em vez de condicionar, parecia dar-nos o sentido mais ponderado da sucessão dos acontecimentos, partilhar deles e aplicá-los à realidade da emigração. E debatemos, discutimos, filiámo-nos partidáriamente, criámos organismos representativos das comunidades emigrantes portuguesas para defesa dos seus direitos, e constituímos colectividades, através das quais transmitíamos ao povo alemão a nossa cultura e a nossa história.

    As vindas a Portugal passaram a ser mais frequentes, e os termos de comparação com as realidades dos países de acolhimento, confirmavam-nos os progressos que o país ia vivendo
    Regressei definitivamente no ano de 1990 e então já conhecedor de algumas realidades locais, vivia a reintegração de forma entusiástica, por efeito da dinâmica politica local, é verdade, mas também porque me sentia identificado com Setúbal e as suas gentes, pela forma desassombrada e leal com que de tudo se falava e decidia, e particularmente com as singularidades desta região periférica que é a freguesia do Sado, marcada pela convivência ainda hoje nem sempre consensual de gente oriunda do Algarve, Beira Interior e Alentejo.

    A Freguesia do Sado, freguesia de Abril porque a revolução a criou, nasceu cresceu e emancipou-se. Os eleitos locais desde logo interpretaram claramente o sentir e os anseios desta população. As forças políticas de esquerda são desde sempre largamente maioritárias, e responsáveis pelo desenvolvimento social e económico que a região conhece desde o 25 de Abril de 1974. A vontade e querer dos eleitos radica, - e que disso não hajam quaisquer dúvidas, - nas condições criadas com a revolução, pela instauração da democracia, e pelo exercício da liberdade.

    Freguesia multifacetada, mantém, 24 anos depois da sua criação, muitas das características identitárias iniciais, que resultam do movimento migratório interno de pessoas que por razões económicas aqui se radicaram. É também uma das suas riquezas, o que torna o exercício da vida autárquica e democrática mais empolgante, já que por comparações, hábitos e perspectivas diferenciados, os eleitos obrigam-se a equacionar mais hipóteses, a confrontar mais opiniões, a dirimir diferentes prioridades, num processo de enriquecimento político e social que valoriza os resultados obtidos e o progresso alcançado.

    Abriram-se e consolidaram-se caminhos, reabilitaram-se vias públicas, construíram-se passeios, criaram-se espaços verdes, alargou-se a rede de saneamento e dotou-se toda a freguesia de água pública, numa actividade ininterrupta de melhoria da qualidade de vida, simultânea à recolha e transporte de monos e detritos, à varredura das ruas, à monda de ervas, à manutenção dos edifícios escolares. Isto tem um nome: DELEGAÇÃO DE COMPETÊNCIAS. E tem um paradigma: faz melhor quem está mais perto. E tem objectivos: aproximar os eleitos dos eleitores, num processo de democracia participativa. E tem uma matriz: CONQUISTAS DE ABRIL.

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